I’m a straight guy working in a Gay Bar - Capítulo 27 – Extra
Shen Die recebeu um telefonema de Xia Zhi quando ainda faltava meio mês para o fim das férias de verão.
Eram 21h e ele ainda não havia saído do trabalho, ouvindo um relatório de avaliação de projeto. Depois de voar de volta para a Cidade C, não teve mais do que alguns dias de descanso antes que seu pai o arrastasse para sua própria empresa para administrar as coisas.
Esteve ocupado durante toda a manhã até a noite sem nenhum momento de sobra. A única hora que conseguia encontrar para conversar com o namorado em outra cidade era logo antes de ir para a cama. Estava tão carente que esteve perto de adoecer.
Seu telefone vibrou duas vezes na mesa da sala de conferências. O assistente atrás dele deu um passo à frente para pegá-lo. Shen Die olhou para o identificador de chamadas antes de estender a mão para interceptá-lo: “Passe para mim”.
Era um segundo mais tarde quando seu assistente já havia tocado o botão de desligar. Quando se virou e viu o rosto do outro na mesa, ficou sem palavras. Shen Die olhou um pouco antes de gesticular para a pessoa que estava em apresentação. Pegou o telefone e discou de volta.
Originalmente planejou realizar multitarefas, mas no segundo que a voz soou, sua atenção foi instantaneamente atraída inteiramente para ele. Xia Zhi primeiro o chamou com uma voz alta e brilhante, depois começou a divagar sobre as menores coisas de sua vida diária. Perguntando se estava ocupado, onde estava, se havia dormido bem…
Shen Die estava sentado na ponta da mesa de conferência, mentindo sem nem mudar de expressão. No final, Xia Zhi finalmente parou um pouco e perguntou suavemente: “Você sente minha falta?”
Sua voz soava um pouco sonolenta, fazendo parecer que estava também resmungando. Uma pergunta que nunca havia sido feita por ele nas ligações passadas foi perguntada, neste momento do nada, tão de repente.
“Sim”, essa foi a resposta quando Shen Die recostou-se na cadeira.
O outro claramente soltou uma risada ao telefone, seu tom aumentando sem o menor sinal de tentar esconder sua felicidade. Depois de rir um pouco, não declarou se sentia falta dele ou não, apenas disse maliciosamente: “Então, continue sentindo minha falta. Até a próxima. Tchau”.
Shen Die franziu a testa, percebendo algo incomum. Antes que pudesse dizer qualquer coisa, tudo o que ouviu foram os ‘bipes’ de uma chamada desligada.
Ponderou em silêncio por um momento, incapaz de deixar isso de lado. Interrompeu a apresentação e se levantou: “Tenho algo para cuidar, assim preciso voltar para casa. Vocês podem me enviar o plano e a ata da reunião para revisão”.
Seu assistente foi obrigado a ficar para trás para ouvir a apresentação. Shen Die ligou para o motorista e, quando entrou no banco de trás, disse: “Para o aeroporto”.
O céu estava cheio de relâmpagos e trovões retumbando sem parar, seguidos por uma tempestade.
A janela do carro estalou com as gotas de chuva caindo sobre ela. O homem ali dentro franziu a testa e pegou o telefone para discar um número, mas não foi atendido. Com expressão inalterada, simplesmente pediu ao motorista que fosse mais rápido.
Estava no meio da tempestade, então mesmo que tentasse acelerar, ainda demoraria cerca de uma hora ao chegar ao destino final.
A chuva havia diminuído um pouco quando ele saiu do carro e a entrada do aeroporto estava bloqueada de carros que chegavam para buscar pessoas. Shen Die caminhou contra a multidão com um guarda-chuva, esperando os anúncios nos autofalantes. Estava tudo bem, mesmo que aquela corrida até aqui fosse em vão.
Talvez Deus não estivesse disposto a deixa-lo aqui sem motivo. Quando deu alguns passos dentro do saguão, teve um vislumbre de uma atraente camiseta verde fluorescente no canto de várias fileiras de assentos.
Quando se aproximou e ficou na frente dele, Xia Zhi, que estava sentado em uma cadeira, ainda não respondia. Com a cabeça inclinada e apoiada no encosto, estava sonolento e adormecido. O ar condicionado do aeroporto estava em um nível baixo, então estava com as pernas dobradas e se abraçando como uma criança. Ele se encolheu como uma bola, como um pequeno animal que fugiu de casa, inocente e lamentável.
A raiva e irritação originais que Shen Die sentiu foram rapidamente extintas. Depois de verificar cuidadosamente para ter certeza de que o corpo de Xia Zhi não tinha vestígios de chuva, de um suspiro de alívio e abriu o zíper do próprio paletó, curvando-se para cobri-lo. Só então o outro abriu os olhos, atordoado.
Murmurou incrédulo: “Droga. Esse sonho é muito realista”.
Shen Die não disse nada, mas sentiu vontade de rir do comportamento bobo de Xia Zhi. Estendeu a mão para alisar aquele punhado de cabelo bagunçado. Quando estava prestes a falar acertar as contas com esse pequeno mentiroso, seu pescoço foi subitamente enrolado pelos braços de alguém e arrastado para baixo.
Xia Zhi ainda estava atordoado, porém a força em seus braços era grande. Na frente dos transeuntes do saguão, pensando que ainda estava sonhando, subiu descaradamente e se esfregou no pescoço do outro: “Você não sabe o quanto senti sua falta”.
As pessoas que passavam com suas malas lançaram olhares estranhos para eles. No entanto, Shen Die parecia calmo e nem um pouco envergonhado. Sob as luzes fortes do ambiente, pegou Xia Zhi nos braços, roçou os lábios no lóbulo frio da orelha e perguntou: “Quanto?”
Xia Zhi enrijeceu e voltou a si.
Olhou ao redor, incrédulo e chocado, encontrando os olhos curiosos de uma criança parada na sua frente lambendo seu pirulito. Seu rosto quase queimou imediatamente enquanto lutava para sair dos braços do outro: “Por-porque está aqui?”
“Eu deveria estar perguntando isso a você”.
Shen Die o puxou da cadeira e sua expressão não pôde deixar de escurecer um pouco. Xia Zhi foi arrastado atordoado para a entrada do aeroporto, ainda confuso por ter acabado de acordar. Não conseguia acompanhar os passos e tropeçava um pouco.
“Porque anda tão rápido?”
O outro olhou para ele, abrindo o guarda-chuva: “Devo carregá-lo de volta?”
Xia Zhi imediatamente balançou a cabeça: “Não é como se eu não tivesse pernas… há tantas pessoas aqui”.
Não podendo ser carregado, então andará sozinho.
Os dois caminharam na chuva, compartilhando o guarda-chuva. O carro estava estacionado a alguma distância.
Enrolado no paletó de Shen Die, Xia Zhi perguntou: “Está com frio?”
Esse cara ficou congelando no aeroporto por um bom tempo, a ponto de tremer todo. Mesmo assim, ainda se virou para perguntar ao namorado, que estava de mangas compridas, se estava com frio.
Shen Die não conseguia decidir se estava se sentindo afetuoso ou desamparado. Balançou a cabeça em resposta, sem responder com palavras. Acontece que Xia Zhi confundiu isso com um significado diferente.
“Porque está com raiva? Fica sempre infeliz toda vez que compartilhamos um guarda-chuva. Mesquinho. Da próxima vez trarei o meu”.
Shen Die engoliu em seco sobre qualquer reposta de daria, em vez disso, seguiu a frase do outro: “O que quer dizer com ‘sempre’?”
“Ainda tentando agir como inocente!”, Xia Zhi bufou: “A última vez que tivemos na universidade, quando estava deixando você. Também estava com uma expressão tão severa, não é? Como se eu lhe devesse dinheiro!”
Embora seja verdade que ele devesse dinheiro naquela época…
Shen Die se divertiu com isso: “Não estou com raiva”.
Falando naquela noite, porém, a única razão pela qual estava e mau humor provavelmente por ter visto o outro parado com um guarda-chuva quebrado, encharcado de cima a baixo. E mesmo neste estado ainda queria mandá-lo embora, sem nem ligar se estava sentindo frio. Foi o mesmo humor que sentiu ao ver Xia Zhi enrolado como uma bola na cadeira do saguão, passando frio.
Xia Zhi fez beicinho, não convencido: “Estava sim com raiva, até roubou meu café. Depois me beijou com força…”
Antes que pudesse terminar a frase, acabou parando de falar. Shen Die parou em seus passos, olhando para baixo para ver o que estava acontecendo. Estava pensando em provocá-lo um pouco mais, mas viu as orelhas avermelhadas do outro, sentindo um nó ardente na garganta.
Os dois saíram da calçada e pararam na esquina, há alguns passos do carro. Só conseguiam ouvir o som das gotas de chuva batendo sem parar. Parecia que as cenas em sua memória estavam sendo repetidas agora.
Xia Zhi parou no meio do caminho, sem apressá-lo para sair. Ergueu seus olhos um pouco e gaguejou: “Ninguém está aqui…”
O ar úmido parecia ser suavemente agitado por seu sussurro suave, a umidade envolvendo seus corpos suavemente, criando uma atmosfera ambígua.
O braço de Shen Die envolveu em sua cintura e subiu lentamente. Xia Zhi agitou os olhos, porém não recuou. Colocou a mão que estava aquecida dentro do bolso do paletó no ombro do namorado. Comparado ao ritmo rápido da chuva, não tinha certeza se seu batimento cardíaco também estava.
A luz sob o guarda-chuva estava fraca. A única coisa que podia ser vista eram as brilhantes estrelas da noite refletidas em ambos os olhos, ardendo de paixão e todo tipo de emoções. Saudade um do outro, desejo e até uma pitada de reclamação, bem como o amor e a obsessão enterrados no fundo de seus corações.
Quando estavam tão próximos que podiam sentir a respiração um do outro, Shen Die fez uma pausa.
Acariciou a covinha de Xia Zhi, que estava quente ao toque, como se estivesse prestes a dizer algumas palavras calorosas e doces. Mas antes que pudesse abrir a boca, seus lábios foram selados pela pessoa à sua frente, que tomou a iniciativa de atacá-lo.
Xia Zhi soltou um gemido descontente por sua hesitação. Mordeu de leve os lábios do outro, já que não suportava ser mal com o namorado. Toda aquela agitação e agressividade não passava de blefe. Acabou sendo uma mordida superficial e depois mostrou a língua e lambeu o local.
Assim como um gato doméstico teimoso, mas bem comportado. Um arranhão em seu dono, só que com a intenção de pedir mimos.
Shen Die assumiu a iniciativa e se inclinou para frente, beijando-o forte e profundamente. Xia Zhi não conseguiu recuperar o fôlego e foi forçado a dar dois passos para trás, quase tropeçando. O namorado o segurou mais firme, com um braço em volta da cintura, deixando-o estável.
Uma buzina alta ecoou ao longe na estrada escura, com dois feixes de luzes brilhantes atravessando a chuva. Um carro passou em alta velocidade. Quando as luzes estavam longe o suficiente o ambiente ficou quieto, Xia Zhi enterrou o rosto no ombro de Shen Die, pedindo que descansasse um pouco antes de saírem.
Shen Die contraiu os lábios em bom humor, pegou seu telefone e discou. Um carro cinza escuro estacionou um minuto depois. Ele abriu a porta e empurrou o outro para dentro, ainda indiferente.
Com a temperatura certa dentro do carro, Xia Zhi apoiou-se preguiçosamente no namorado: “Porque não chamou o carro antes, já que estava tão perto?”
O motorista não deixou de ficar curioso, olhando pelo retrovisor. Foi quando Xia Zhi caiu em si, deu um pulo de susto e moveu-se para o lado com o rosto vermelho, mas foi puxado de volta por Shen Die.
“Eu deveria mesmo ter chamado mais cedo. É fácil de pegar um resfriado se ficarmos nos beijando muito tempo lá fora”.
Foi aí que um espirro repentino e alto veio de Xia Zhi.
O motorista capturou essa cena no espelho. Sua mão no volante tremendo um pouco quando desviou o olhar com cautela.
A expressão de Shen Die não mudou em nada, pegando um lenço para limpar o rosto do outro.
Xia Zhi lembrava-se daquela expressão fria e permanente no rosto de Shen Die. De repente, sentiu vontade de se vingar, inclinando-se perto de sua orelha: “Vou lamber você todo e te deixar bem limpo mais tarde”.
O namorado ergueu a sobrancelha, olhando para os lábios do outro com olhos escuros. A mão em sua cintura apertou um pouco: “Vou deixar você lamber lentamente quando voltarmos”.
Xia Zhi entrou em pânico: “Eu só estava brincando”.
“Não se preocupe. Eu levei isso bem a sério”.