It seems there is light - Capítulo 38 – Palavras
Uma sensação estranha enterrada nas costas de sua mão deixou ShiAn desconfortável. Ergueu a mão esquerda e a agulha longa e fina estava enterrada em uma veia azul-esverdeada.
Com a outra mão, apertou o tubo longo e fino e deu um puxão forte. A agulha arrancou a pele, a carne frágil foi rasgada pela seringa e o sangue escorrer em um instante. A sensação de dilaceração deu a ShiAn um prazer inexplicável.
As mãos brancas e frias, os trágicos lençóis brancos, o sangue escorrendo formaram um forte impacto visual quando um cheiro leve de sangue penetrou seu nariz. Sentiu náuseas e foi ao lado da cama, vomitando violentamente algumas vezes.
“ShiAn?”, ouviu a porta da enfermaria sendo aberta e Yan Liang correu para o seu lado. Agarrando seu pulso, pressionando o tecido macio sobre a ferida: “O que está fazendo?” ele olhava de baixo para cima, com pânico e nervosismo indisfarçáveis. Aqueles olhos de flor de pêssego que sempre carregavam um sorriso pareciam agora ter secado.
Lu Qingzhi ficou encostada na lateral da cama, sem capuz, com o cabelo bagunçado nos ombros se bochechas. Olhos levemente vermelhos e inchados, lábios pálidos estavam cobertos por uma fina camada de pele morta.
ShiAn viu Lu Qingzhi fora de forma pela primeira vez. Ele se levantou com um prazer quase traiçoeiro e incontrolável. Curvou levemente a boca.
Os olhos mortos da mulher olharam para ele com espanto, como se estivesse olhando para algum monstro.
Yan Liang entrou em pânico, segurando o rosto do outro, puxando sua cabeça. ShiAn foi forçado a olhar diretamente nos olhos de Yan Liang. O ar ainda cheirava a sangue enferrujado e ShiAn relutantemente empurrou Yan Liang para o lado, agachando-se e vomitando em seguida.
“Yan Liang”, perguntou: “onde está minha avó?” a voz de adolescente antes limpo e claro tornou-se rouca e seca.
Perdendo suas forças, Yan Liang encostou-se na parede, olhando diretamente nos olhos do outro: “…” ele ergueu a mão, coçando o pescoço, tentando fazer sua voz parecer normal: “ShiAn, quer ir vê-la?”
ShiAn não deixou Lu Qingzhi assumir o funeral de Jiang Yuan; estava disposto a confiar mais nos vizinhos do Beco Qingjiu. Jiang Yuan dormiu para sempre no columbário do templo.
(columbário: cavidade subterrânea em que alguns povos antigos colocavam as urnas funerárias; construção funerária com vários compartimentos usados para depositar urnas com cinzas de cadáveres humanos)
Depois da cerimônia, ao voltar para casa, ShiAn ficou deitado no quarto de Jiang Yuan, sentindo o calor residual da avó no ar. Ele esteve indisposto e com febre alta, passando a maior parte do mês fora da escola, ficando deitado em casa, dormindo dia e noite. Parecia estar sonhando o tempo todo. O caos do calor evaporando sua sanidade a ponto da desintegração. Ele não conseguia se lembrar de nada, exceto que toda vez que acordava sempre havia uma pessoa ao seu redor. Ele o pegou nos braços, acariciou seus cabelos e disse para não ter medo.
Às vezes, quando recuperava o juízo, encontrava os olhos claros de Lady. A gata, às vezes, se deitava em seu travesseiro e enrolava lentamente nos braços de ShiAn com o rabo apoiado em seu pulso.
Seus cinco sentidos ficavam embolados, mas suavemente percebia a leve fragrância de sabonete nas roupas de Yan Liang. Os dedos delgados do garoto pousaram suavemente em sua testa. ShiAn lutou para abrir os olhos, procurando aqueles olhos que seriam os únicos que lhe dariam paz de espírito.
“Estou aqui, não se preocupe, apenas durma”.
ShiAn estava um pouco confuso, sua aparência era muito parecida com a de uma criança perdida. Lentamente inclinou a cabeça para longe da palma da mão de Yan Liang, olhando teimosamente para ele, estufando levemente as bochechas, como se estivesse com raiva. Olhos vermelhos, maças do rosto coradas, lábios ligeiramente abertos, como se quisesse falar.
Ele se esqueceu do que foi dito. Na onda do caos quente, sentiu o peito e a garganta vibrarem com o entorpecimento, contraindo espasmos. Parecia perguntar a Yan Liang se ele iria morrer. Disse que estava muito desconfortável. Também parecia dizer que talvez não fosse um bom garoto porque Lu Qingzhi não o queria, Shi Wang não o queria e Jing Yuan também não o queria.
Até Yan Liang quase não o queria.
Ao dizer essas coisas, Yan Liang mostrou uma expressão de dor e surpresa. Viu o outro balançando a cabeça desesperadamente, seus lindos lábios abrindo e fechando, refutando alguma coisa. Sua cabeça parecia cheia de bolhas de ar, palavras e frases estavam deformadas e distorcidas.
Yan Liang não falou mais, apenas fechou os olhos. O olhar vazio e dolorido foi isolado sob a pálpebra fina. Sua mão mais uma vez pousou na testa de ShiAn.
Um cheiro familiar encheu a ponta do nariz, e antes de desmaiar, ouviu Yan Liang sussurrando em seu ouvindo, repetindo algo suave teimosamente.
O que estava dizendo?
ShiAn lutou para abrir os olhos, mas perdeu a consciência aos poucos.
Era uma noite nublada quando acordou.
O quarto estava encharcado em um tom azul e ShiAn olhou para a velha vidraça, sem saber por um momento se era manhã ou noite. O corpo que já não tinha mais febre afundou em um conforto suave. Sentou-se lentamente.
Pela primeira vez, quando acordou, não havia mais ninguém no quarto.
Resolveu se limpar. Tomou um banho, vestiu uma camisa limpa e passou os dedos pelos cabelos molhados. Ao voltar para o quarto, de repente, não sabia o que fazer.
O velho piso de madeira fez um leve rangido e ShiAn seguiu o som e inclinou a cabeça. Yan Liang estava parado na frente do quarto de Jiang Yuan olhando para ele, perplexo como uma criança que acidentalmente deixou voar o balão de sua mão.
“ShiAn, o que aconteceu? Onde você estava?”, a figura se apressou e segurou o outro pelos ombros.
“Eu? Tomei um banho”.
Yan Liang colocou a palma da mão quente na testa de ShiAn, que já estava na temperatura normal. ShiAn pensou por um momento e acabou erguendo a mão e esfregou a nuca de Yan Liang.
“Estou bem. Pode ir, quero ficar sozinho”. Não havia expressão no rosto do jovem, olhos quentes e suaves, gotas de água cristalina escorriam de seu cabelo. Apenas conseguiu repetir: “Pode ir”.
ShiAn estava cansado e sua voz estava leve. Yan Liang hesitou um pouco e acenou com a cabeça lentamente. ShiAn sempre foi uma pessoa extremamente resiliente e na maioria das vezes capaz de tomar a melhor decisão para si mesmo.
Nada importa; os dias continuariam.
Yan Liang caminhou até as escadas e segurou-se na parede antes de se virar novamente: “ShiAn, você se lembra daquele dia? Quando eu vim e você acordou? Você… você ouviu o que eu disse?”
Os dedos de ShiAn passaram por seu cabelo e pararam. Provavelmente sabia do momento que Yan Liang estava falando, mas estava tão inconsciente por causa da febre que realmente não ouviu nada.
“Eu disse alguma bobagem?”, o jovem estreitou os olhos e inclinou a cabeça: “Não consigo me lembrar. O que você disse?”
A escada estava escondida na escuridão e a silhueta do outro ficou borrada. A voz de Yan Liang veio abafada: “Como é que você não ouviu?”
Parecia haver algum aborrecimento.
ShiAn queria perguntar mais, mas Yan Liang já havia descido as escadas. Desceu o final da escada com um baque surdo no chão de madeira.
O jovem apenas permaneceu no lugar por mais um tempo. Seus movimentos pareciam ser feitos em câmera lenta; o piscar de seus olhos parecia levar um minuto inteiro para abrir e fechar. Sua mente estava vazia e quieta, lembrando um dente-de-leão balançando ao vento fraco.
O coração estava vazio, com uma sensação de perda e tristeza.