It seems there is light - Capítulo 40 – Não encontro
A esquina da rua poderia ser descrita como desconhecida para ele. ShiAn ficou parado na beira da estrada, atordoado, mordendo o lábio.
Ele não conseguiu encontrar.
Aquela era uma rua paralela a escola, com letreiros luminosos pendurados, lojas de ambos os lados lotadas e pequenos carrinhos e barracas ao redor.
Parado na rua nessas horas, sempre se sentiria pequeno por causa da agitação.
Imagine um gato?
Ele não conseguia encontrar.
Os olhos doíam tanto que ShiAn pressionava os dedos contra as pálpebras e se forçou a respirar profunda e de maneira rítmica.
A Lady se foi.
Um dia antes do término da competição, ShiAn voltou ao dormitório e não viu aqueles olhos frios e claros da gata branca. Antes, ela sempre se aninhava em sua bolsa aberta no canto da cama, queixo frequentemente repousando na borda da bolsa.
A bolsa estava vazia.
Fingir instintivamente que estava calmo o deixou tonto por um tempo.
Eu posso encontrar; eu posso encontrar, enquanto continuar procurando, posso encontrá-la.
Prendendo a respiração e tentando manter-se contido, ShiAn correu por toda a escola como um louco. Não havia nenhum gato branco ao retor, não havia nada mesmo. Ao sair da escola para a rua, a respiração que segurava no peito foi liberada instantaneamente.
Por que o mundo é tão grande?
Não deixou de andar por um só momento.
Ele não conseguiu encontrar.
ShiAn ficou parado na beira da calçada. De repente teve vontade de chorar, mas não foi como nas vezes anteriores, apenas seus olhos estavam secos e doloridos. Foi então que as lágrimas rolaram. Ele não sabia por que estava chorado; por causa da gata, por causa de sua avó ou por que estava se sentindo só e desolado.
Ele só conseguia mesmo chorar.
Com lágrimas nos olhos e um nó na garganta, ShiAn abaixou a cabeça, deu meia volta, como um gato perseguindo o próprio rabo. O peito tão entupido que não conseguia respirar direito e todo o seu corpo estava fraco. O jovem se agachou e cobriu os olhos com as palmas das mãos.
“Ei, garoto, o que há de errado com você?” a tia que fritava um hamburguer largou a espátula e correu. O cheiro de fumaça e fogo em seu avental tingiu o nariz dele: “Por que está chorando de repente?”. Ela trazia um rolo de papel levemente amarelado pela gordura: “Pegue, pegue. O que aconteceu?”
ShiAn respirou fundo, tentando controlar o tom: “Nada… nada… acho que perdi uma coisa…”
“Qual é a pressa? Você encontrará essa coisa quando procurar. Não me assuste”. Um saco engordurado foi enfiado em suas mãos: “Enxugue suas lágrimas. Apena coma, deve estar com fome”.
O saco de papel marrom claro, escaldado e enrugado, estava manchado e as pontas dos dedos de ShiAn ficaram avermelhadas por causa do calor do lanche de hamburguer com ovos.
A tia voltou para o carrinho e pegou de volta a espátula, o som de óleo chiando recomeçou. Ela virou a cabeça para ele e fez um sinal de positivo.
A cena foi um pouco fofa e o peito de ShiAn ficou livre da frustração. Ele piscou para ela com um meio suspiro e meio sorriso.
Não há mais buscas.
Não consigo encontrar.
A gata estava velha e iria encontrar algum canto estranho e tranquilo do mundo para morrer sozinha. Ele pensou nos olhos claros de Lady que nunca queria dormir, nas pontas das orelhas aparecendo por cima da borda de sua mochila, no rabo enrolado firmemente em seu pulso e sua frieza perversa. Tinha falado de carinho e despedida um milhão de vezes em silêncio.
Na viagem de volta para casa resolveu voltar de ônibus, não querendo voltar de carro com o professor Cheng Yuan. Escolheu um assento na janela, que abriu ao máximo. A mochila escolar estava vazia em seu colo, o zíper não foi fechado. O antigo ônibus dirigiu lentamente por algumas horas e parou no portão da entrada de sua escola às seis da tarde.
“Como você vai voltar? Seus pais vêm buscá-lo?”, o motorista perguntava para os alunos que saltavam um por um do ônibus.
“Já estão vindo”.
“Meus pais não estão em casa, volto sozinho”.
“Vou dormir na casa de um colega. Vamos antes comer espetinhos”.
ShiAn foi o último a descer.
Como voltar? De táxi? Basta caminhar. Cansado.
O jovem arrastou a bagagem e ficou repentinamente atordoado ao se virar. Yan Liang estava sentado na bicicleta, corpo ligeiramente inclinado, as longas pernas apoiadas e os tênis brancos imaculados pisando nos degraus de pedra à beira da estrada.
Carregava uma grande e volumosa bolsa preta em formato de violão, um fone de ouvido branco com o fio pendurado descuidadamente.
A figura do jovem era magra e o botão da camisa não estava abotoado até o topo: “ShiAn. Aqui!”
ShiAn arrastou a bagagem com uma das mãos e segurou sua mochila no outro braço. Acontece que ele não saiu do lugar.
Yan Liang baixou a mão, empurrou um pouco a bicicleta, parando suavemente na frente do outro: “Você não vem?”
O rosto de ShiAn estava um pouco magoado. Os cantos de sua boca estavam franzidos, ligeiramente caídos, seus olhos um pouco vermelhos.
“Céus: o que há de errado? O que foi que aconteceu?”
O outro não respondia, apenas olhava para a traseira da bicicleta com olhos baixos.
“Oh… sim… não tenho banco traseiro…”. Yan Liang dobrou os nós dos dedos e bateu o pé traseiro à sua frente: “Então… chega de ficar sentado. Vamos caminhando juntos?”
Yan Liang tentou pegar a mochila vazia das mãos do outro, mas ShiAn não a soltou.
“Yan Liang… perdi a gata”, o jovem falou, apertando ainda mais a mochila.
“Er…”, Yan Liang soltou a mao e seus cílios caíram: “Enquanto você esteve doente, ela ficou especialmente pegajosa, e todos acharam aquilo estranho. Foi uma despedida, não foi?”, o garoto inclinou a cabeça, passando os dedos no cabelo de ShiAn: “Fique bem; está tudo bem”.
O coração de ShiAn palpitou e suas orelhas ficaram quentes.
O que este cara está tentando fazer?
Yan Liang rapidamente se virou e bateu no guidão da bicicleta. O garoto continuou falando, parecendo natural: “Vamos caminhando?”