It seems there is light - Capítulo 44 – Ônibus
ShiAn terminava os deveres e lições que havia perdido durante este tempo em casa.
Gostava de usar folhas como rascunho, era mais conveniente. Ao final de seu estudo, percebeu que não tinha mais folhas disponíveis, nem novas nem usadas.
“Shen Qiaoqiao. Você tem alguma folha solta para me dar?”, ele bateu com os nós dos dedos na mesa de sua colega.
“Ah, sim”, ela largou a caneta e acenou com a cabeça: “Espere”.
Estava prestes a se abaixar para olhar dentro de sua mochila escolar quando a voz de Yan Liang veio de trás de sua cabeça: “ShiAn, ShiAn, eu tenho”.
Shen Qiaoqiao, que já havia encontrado a folha, olhou para o garoto e piscou.
“Obrigado. Ele já me deu uma”. ShiAn acenou com a cabeça e saiu da sala de aula.
Yan Liang colocou o braço em volta dos ombros e assumiu o controle da pessoa: “O que foi aquilo? Por que ainda não mudou de lugar? Por que ainda é colega de mesa dela?”
“O professor não mudou tem preguiça de mudar as pessoas de lugar”. ShiAn pensou na tabela de assentos que não mudara desde o primeiro ano do ensino médio.
Ele ouviu Yan Liang batendo os dentes com força quando ele inclinou a cabeça para olhar para o lado.
“Ela gosta de você”, abaixou o braço e bateu de leve em seu ombro: “Eu ouvi claramente no semestre passado, na escada”.
ShiAn ficou atordoado, e uma ideia altamente improvável, mas muito plausível, surgiu em sua cabeça depois.
ShiAn… você tem alguém… que você gosta?
Você pode me dizer quem é?
Se alguém de quem você não gosta confessasse para você, o que você faria?
Por que… você não está com ela?
Ele se lembrou da linha da mandíbula de Yan Liang, que parecia rígida e diferente em um determinado momento, seu desejo de dizer algo, seus olhos intencionalmente ou não escondidos, vazios em algum lugar.
Parecia haver mais de um tolo.
Parecia ter sido perdido mais de uma vez.
“Aqui estão as folhas. Comprei várias; quando precisar, peça para mim”.
“Yan Liang, pegue o ônibus para casa esta noite”.
O garoto ficou um pouco atordoado, seu sorriso desapareceu: “O que há de errado? Está de mau humor?”
Havia um hábito de ShiAn desde pequeno: só pegava o ônibus quando estava de mau humor. Sentado na posição mais próxima a janela, o ônibus passava pelas ruas movimentadas da cidade. Nessa hora, ShiAn sempre encostava a esta na janela, as pontas dos dedos tocando o vidro.
Estava quieto como uma sombra.
“Não, é só que o ônibus é mais lento”.
“Oh. Entendi. Então você quer passar mais tempo comigo?”
ShiAn assentiu.
“Er… eu… bem, ShiAn, está na hora da aula. Volte para a classe”.
ShiAn deu dois passos e Yan Liang o seguiu.
“Não consigo deixar você, ShiAn”.
“Yan Liang, somos tão infantis”.
**
Já fazia muito tempo que não pegava o ônibus de volta para o Beco Qingjiu depois de uma aula noturna e a sensação de espera havia se tornado um pouco estranha.
“Quer ouvir música? Trouxe meus fones”, os dedos de Yan Liang continuaram se movendo, tentando endireitar o cabo bagunçado, mas acabou por enrolar ainda mais.
ShiAn pegou os fones, mexeu os dedos para frente e para trás algumas vezes e o nó corrediço foi desatado com cuidado e habilidade.
Yan Liang colocou um fone no ouvido de ShiAn e o ônibus 56 veio lentamente.
“Crianças fora da escola?” perguntou o motorista, encostando preguiçosamente o braço no encosto do banco.
“Boa noite. Fim da aula noturna”. Yan Liang subiu diretamente, tentando parecer simpático: “E o senhor, como vai?”
“A última corrida. Vou tomar uma bebida depois dessa”. O homem gordo de meia-idade, mexeu o corpo: “Para onde vão?”
“Nanxing”.
“Como é que pretendem pegar este aqui? A volta é grande”.
“Está bem para nós. É bom dar uma volta”, Yan Liang se virou e tocou o cabelo de ShiAn, que já estava acomodado, com um livro nas mãos: “Não leia na penumbra, isso machuca os olhos”.
“Tudo bem”, ele levantou o braço e abriu a cortina que escurecia o interior. A cidade era sonolenta e preguiçosa à noite, com árvores antigas ao longo da rua, com ocasionais gatos pulado entre os muros e telhados.
ShiAn virou a cabeça para olhar pela janela. Tirou os fones de ouvido: “Yan Liang. Quero que me desculpe”.
“Hein?”, o outro ficou pasmo: “Desculpar o quê?”
“É que… pensei que…”, como se não soubesse o que dizer, ShiAn virou o rosto de lado. Yan Liang só conseguia ver a silhueta de seus cílios grossos: “Achei que, contanto que me escondesse bem, isso não aconteceria… estava com um pouco de medo de que, se você descobrisse, não seríamos mais amigos”. ShiAn enrolava os dedos na ponta da cortina: “Não era uma sensação muito boa, mas estava com receio de não fazer você se sentir bem…” virou a cabeça, a extremidade dos olhos se curvando: “Mas, acredito, que tenho muita sorte”.
Yan Liang não falou de imediato, olhando para o outro, vendo ShiAn suspirar: “Ora… ShiAn… quer que eu morra de dor de cabeça?” tentou aliviar um pouco a tensão nas palavras do outro: “Quando… isto é, quanto tempo faz?”
Com o dedo no vidro, a voz de ShiAn foi suave ao dizer: “Não me lembro… já faz muito tempo”.
Yan Liang certificou-se de que se lembraria dessa cena para o resto da vida.
“Então, há quanto tempo você sabe?” ShiAn agora olhava diretamente para ele.
“Não muito tempo. Para ser honesto, apenas… apenas nestas férias”.
Essas últimas férias não foram uma boa lembrança para ShiAn, tanto que seus cílios tremiam levemente: “E como foi-como foi que você descobriu?”
“Eu… acidentalmente… acidentalmente, li um de suas anotações”. Só conseguia se lembrar daquela noite abafada de verão e do livro de capa dura com o coração adolescente no quarto de Jiang Yuan.
A emoção do fundo de seu coração era suave e pegajosa.
“Anotações? Como assim?”
“Não se lembra? Ainda deve estar no mesmo lugar”.
ShiAn assentiu.