Little Fox - Capítulo 10 – Acompanhando você
SuYu suspirou ao ver a expressão surpresa de Fusang e finalmente contou o segredo que estava escondido no fundo de seu coração: “Minha mãe era a jovem filha da residência do primeiro-ministro na capital e ela a garota mais talentosa do lugar. Meu pai não era caçador; ele era o jovem general da residência do general Tianshun”.
O homem contava lentamente, olhando para longe como se lembrasse de algo.
“Meu pai e minha mãe cresceram juntos como namorados de infância, e as duas famílias disseram que ficariam noivos. Meu avô materno, quebrou sua promessa quando minha mãe atingiu a idade de se casar. Para aumentar o poder da família, queria enviar minha mãe para o Palácio Real como concubina imperial. Minha mãe, por outro lado, há muito era apaixonada por meu pai e jurou que nunca entraria no palácio. Como resultado, ela ficou gravemente doente e quase morreu”.
“Meu avô materno não ousava mais forçar minha mãe, que era muito determinada. O entanto, o decreto imperial para ela entrar no palácio já havia sido emitido e desafiá-lo significaria cometer um crime de desrespeito e resistência, um ofensa capital punível com o extermínio de nove familiares”.
“Meu pai estava ansioso, mas não havia nada que pudesse fazer. Não tendo outra alternativa, pulava o muro da casa do primeiro-ministro todas as noites para ver minha mãe. Mais tarde, minha avó materna não aguentou ver minha mãe sofrendo tanto, implorou ao meu pai que fugisse com ela. Eles deram a minha mãe uma espécie droga para falsificar a morte, fingiram que ela morreu de uma doença grave e permitiram que meu pai a levasse naquela mesma noite. Meus pais se disfarçaram de comerciantes e fugiram da capital. Como não seriam detectados, foram da capital para o sul e para cidade remota e viveram incógnitos nas profundezas das montanhas”.
“Então, porque vieram procurá-lo aqui?”, Fusang perguntou.
SuYu sorriu enquanto baixava os olhos: “Porque o Imperador faleceu há meio ano. Estavam procurando pistas há muito tempo e só recentemente descobriram”.
O jovem acenou com a cabeça: “Então essas pessoas são seus avós? Querem que você volte para a família?”
SuYu permaneceu em silêncio por um longo tempo antes de concordar. Depois, perguntou timidamente: “SangSang, está disposto a ir para casa comigo?”
Fusang ficou atordoado.
Era uma raposa que havia se transformado em humano. Nasceu para viver rondando as montanhas e florestas e ali fazer sua moradia. Embora não tivesse medo dos humanos simplesmente achava interessante andar na multidão de vez em quando. Entretanto, se tivesse em contato com muita gente todos os dias, ele não tinha ideia se conseguiria se adaptar ou não. Poderia expor sua identidade de raposa?
SuYu, sem dúvida, teria uma família grande e amorosa se fosse para casa. Teria um grande número de pessoas para amar e se preocupar com ele, podendo não precisar mais de sua companhia…
Os olhos de Fusang ficaram azedos só de pensar nisso.
“SangSang, o que está pensando?”, o homem bateu levemente em seu ombro, arrastando sua linha de pensamento gradualmente à deriva. Ele suspirou suavemente ao perceber sua distração e perguntou: “Não está disposto a me acompanhar?”
“Eu… não estou relutante… só estou… um pouco assustado”. O jovem disse, mordendo o lábio inferior e parecendo envergonhado.
Com medo de estar em ambientes completamente desconhecidos e com medo de lidar com muitos humanos. Estava ainda com mais medo de que SuYu tivesse tantas pessoas que não precisasse mais dele.
“Não tenha medo”, disse SuYu, esfregando o topo de seu cabelo macio: “Estarei sempre ao seu lado e não deixarei que os outros o intimidem”.
As palavras eram claramente reconfortantes como água, mas tinham um poder inexplicável, acalmando seu coração confuso e preocupado. Fusang deu um aceno determinado enquanto olhava para o conjunto de olhos profundos que o observavam afetuosamente.
“Certo. Vou acompanhá-lo”.
O sorriso de SuYu tornou-se mais amplo ao vê-lo concordar: “Obrigado, SangSang”.
…
Apesar de arrumarem a bagagem com rapidez, ainda assim demorou dois dias. Na verdade, não tinham muito, o que queriam levar não podia ser levado. Pro exemplo, sua casa simples de palha, os dois túmulos adjacentes e os pessegueiros plantados na frente da casa por ambos.
Os pessegueiros haviam crescido significativamente mais altos e suas copas agora podiam alcançar o ombro de Fusang. Ele acariciou um dos galhos, sua mente fervilhando com um milhão de pensamentos.
Desde que foram plantadas, ele cuidou dessas duas árvores como crianças, mas agora tiveram que se despedir, deixando-os à própria sorte. Ele se sentia relutante e triste.
Havia também essa pequena cabana de palha, que testemunhou seu primeiro encontro com SuYu e seu amor mútuo. Para ele havia tantas memórias aqui.
Fusang deu outra olhada e, apesar de suas reservas, finalmente se virou e foi embora. Estava com tanta pressa que só conseguiu dizer algumas palavras de despedida ao espírito do bambu, que o aconselhou sinceramente a ficar longe do reino mortal. Ele ainda era jovem e simplório, apesar da forma humana. Se ele fosse para lá, quase certamente pagaria um preço muito alto.
O jovem ouviu distraidamente e, após um longo período de silêncio, apenas deu um sorriso superficial: “Como prometi acompanhá-lo pelo resto da minha vida, naturalmente tenho que cumprir. Eu o seguirei onde quer que ele vá”. E continuou: “Depois de hoje, não tenho certeza de quando verei você de novo. Por favor, cuide-se”.
Com seus olhos brilhantes, Fusang se virou e foi embora depois de dizer isso. Seus passos não eram muito longos, mas eram incrivelmente determinados.
Na brisa residual sussurrante, apenas o espírito do bambu soltou alguns suspiros pesados por aquelas costas magras.