Little Fox - Capítulo 11 – Promessa
Para chegar à capital era preciso viajar todo o caminho ao norte a partir do assentamento de Cangshan, a montanha onde viviam.
SuYu alugou uma carruagem e os dois se divertiram vagarosamente ao longo da rota. Eles chegaram depois de mais de um mês.
Fusang estava visitando a capital pela primeira vez. Percebeu que era uma cidade várias vezes maior do que a pequena cidade anterior, com muito mais gente e o cenário era animado, rico e atraente.
Quando chegaram já estava anoitecendo. SuYu ficou em uma pousada com Fusang em vez de ir diretamente para a residência oficial do primeiro-ministro.
As pousadas ali eram consideravelmente mais elegantes do que as das cidades pequenas e, ao abrir a janela, avistava-se a agitada vida noturna. O jovem encostou-se no batente da janela, seu olhar distraído para a rua movimentada, parcialmente iluminada por grandes lanternas vermelhas.
Estava perdido em seus pensamentos quando um par de palmas quentes envolveu sua cintura e a voz quente de SuYu soou em seus ouvidos: “SangSang, quer passear pela capital à noite?”
Fusang relutou por um momento antes de perguntar: “Haverá um grande número de pessoas saindo para se divertir?”
“Claro que vai ter muita gente e muitos petiscos famosos da capital”, SuYu disse, sorrindo.
Quando comida foi mencionada, uma certa pessoa que estava exausta da viagem instantaneamente ficou com os olhos brilhantes: “O que há para comer?”
“Não estou certo sobre isso. Vamos dar uma olhada”.
“Mn”, Fusang assentiu repetidamente.
A capital era mais vibrante à noite do que durante o dia, com lanterna penduradas no alto dos dois lados da rua, ambulantes vendendo seus produtos em um fluxo interminável ao lado da estrada e pedestres transbordando por toda a rua.
Fusang só conseguia segurar a mão de SuYu com força por medo de ser empurrado: “Existem realmente tantas pessoas aqui todos os dias?”
“Bem, essa é Shengjing. Sempre há muita gente se não houver toque de recolher à noite”. O homem manteve a mão na cintura, evitando os pedestres perto de Fusang: “Há muitas bugigangas aqui. Do que você gosta?”, perguntou, apontando para várias barracas na beira da estrada.
(Shengjing: nome histórico de Shenyang, capital da maior cidade do nordeste da China, a província de Liaoning)
O estande de vendedores tinha uma variedade impressionante de itens à venda, mas Fusang não estava interessado. Entretanto, para não desapontar SuYu, ele escolheu uma lanterna em forma de lotus e alguns bolos frescos de castanhas.
Os bolos de castanhas eram doces e macios e a lanterna era muito bem feita. Tinham muito mais qualidade do que os artigos da pequena cidade onde eles viveram anteriormente, tudo aqui não soava nada familiar.
Fusang comeu o bolo envolto em pensamentos.
A multidão era tão densa e barulhenta que eles não conseguiam ver o fim. Fusang de repente sentiu falta da casinha de palha pobre e isolada em Cangshan. Se ainda morassem lá, estaria aninhado nos braços de SuYu, acompanhando-o para observar as estrelas ou apoiado em seu ombro, ouvindo-o ler.
Embora não fosse tão ativo quando a capital, isso o deixava mais à vontade e contente. Houve algum movimento na frente dele enquanto estava suspirando. Uma jovem em um vestido rosa corou e falou com SuYu, que estava ao lado dele.
A jovem era adorável, olhando para SuYu com olhos enormes enquanto passava para ele um lenço de brocado finamente bordado em sua mão.
Mesmo que Fusang não conhecesse muita coisa, poderia descobrir o que ela pretendia fazer.
Fusanf já estava irritado, então quando testemunhou essa cena, independente de SuYu recusar ou aceitar, sua expressão escureceu, mas permaneceu calmo enquanto ele se virava e se afastava, sentindo-se injustiçado.
SuYu o perseguiu ansiosamente, mas ele não ouviu sua explicação.
Na verdade, houve varias ocasiões em que garotas abordaram SuYu com aspirações românticas quando desciam a montanha, mas ele não levou isso a sério na época. Não sabia o que estava errado desta vez; estava se sentindo inquieto da cabeça aos pés desde que entrou na capital.
Como se tivesse pisado em nuvens altas e esvoaçando, incapaz de encontrar um local seguro para pousar. É por isso que estava ansioso e angustiado e uma cena insignificante o fez explodir.
Fusang ficou imóvel na mesa do quarto de hóspedes da pousada e, por mais que o outro batesse na porta, ele não respondeu. Não estava furioso com SuYu, estava com raiva de si mesmo.
Essa respiração que parecia presa em seu pito estava exercendo muita pressão, fazendo-o sentir sufocado e desconfortável, porém não conseguia desbloqueá-la, não importava o que tentasse.
Fusang sentiu dor e não pode deixar de enterrar a cabeça na dobra dos braços.
…
Quando SuYu apressadamente conseguiu que o estalajadeiro destrancasse a porta, testemunhou a seguinte cena: uma única lâmpada acesa na sala, um jovem magro chorando silenciosamente na pequena mesa quadrada e seu corpo esguio tremendo levemente devido aos seus soluços.
SuYu, que nunca o tinha visto assim antes, sentiu uma dor surda em seu coração. Prontamente pegou a figura solitária e frágil em seus braços: “É tudo culpa minha. Não fique com raiva, SangSang…”, ele persuadiu cuidadosamente.
“Não estou bravo… só não estou acostumado com isso ainda”.
Não tenho certeza se um dia vou me acostumar.
SuYu suspirou enquanto fechava os olhos e inclinava a cabeça pra beijar Fusang: “Desculpe-me, fui descuidado e não levei em consideração seus sentimentos”. Acariciou as costas do outro e o acalmou suavemente até Fusang adormecer.
A pessoa em seus braços tinha os olhos fechados, suas pequenas sobrancelhas estavam enrugadas, lagrimas grudadas em seus olhos inchados.
SuYu ficou angustiado ao vê-lo neste estado. Cobriu seu amante adormecido com uma colcha e se levantou. Deu uma longa e profunda olhada na pessoa na cama, então se virou e saiu. Parecia ter chegado a uma decisão.
Já era o dia seguinte quando Fusang acordou. Era o dia em que SuYu iria para a casa de sua família.
O jovem estava tão preocupado com essa questão que sentou-se na cama, olhando fixamente para o nada.
“Está acordado, SangSang?” SuYu abriu a porta e entrou na sala com uma bacia de água quente.
Fusang foi trazido de volta aos seus sentidos por essa chamada suave e pulou da cama para vestir-se.
“Venha e lave-se”, o homem sorriu e acenou para ele.
“Vamos para a casa do primeiro-ministro depois de nos arrumarmos?” Fusang enxugou o rosto e perguntou baixinho.
No entanto, o outro apenas sorriu e balançou a cabeça: ‘Não”. ele fez uma pausa quando viu a expressão atônita do jovem e continuou: “Eu já fui lá ontem à noite. Tomei a decisão de não voltar para a família do primeiro-ministro. Estamos saindo da capital hoje”.
Os olhos de Fusang se arregalaram em descrença depois de ouvir o que ele disse. Seus lábios tremeram quando ele perguntou: “Porque, de repente, não quer ir? Não quer morar com sua família?”
“SangSang, você é a família mais importante que eu tenho nesse mundo”, disse SuYu, balançando a cabeça e olhando para ele com olhos firmes e gentis: “Não quero deixá-lo infeliz; quero que seja feliz para sempre”.
A raposinha ficou parada no lugar, perdida. Seus olhos marejados.
SuYu o embalou em seus braços, esfregou afetuosamente o topo de sua cabeça e sussurrou: “Não podemos voltar para Cangshan, SangSang. Porém, podemos morar em outros lugares, em qualquer outra montanha. Não haverá mais ninguém, apenas nós dois. Isso soa bem?”
Fusang enterrou a cabeça nos braços e continuou a acenar com a cabeça: “SuYu, estarei sempre com você”, murmurou depois de um longo tempo.
A pequena raposa fez uma promessa solene.
Houve um som de riso acima de sua cabeça antes de SuYu se inclinar e beijar sua testa.