Little Fox - Capítulo 12 – Despedida
SuYu tirou Fusang da capital quando o céu clareou. Chegaram ali silenciosamente e saíram silenciosamente também.
Não estando nem um pouco relutante em deixar a capital, SuYu nunca olhou para trás quando deixou esta magnífica cidade. O que deixou para trás, junto com sua família consanguínea, riqueza e prestígio, foi apenas poeira atrás da carruagem.
Eles viajaram para Jiangnan e se estabeleceram em uma floresta montanhosa remota e deslumbrante. Trabalharam muito para construir uma pequena casa das montanhas, semelhante à que tinham em Cangshan.
(Jiangnan é uma área geográfica na China, terras ao sul do curso inferior do Rio Yangtze)
Fusang plantou dois pessegueiros na frente da casa e, graças à sua experiência anterior, as mudas prosperaram dessa vez. Como antes, SuYu pintava e escrevia para os habitantes da cidade para ganhar algum dinheiro e, em seus momentos de lazer, abraçava-se com Fusang para ler e contar histórias.
Tudo parecia estar de volta ao normal, relaxado e desinibido. Exceto pelos anos que se deslizaram silenciosamente por entre seus dedos, o tempo passou feliz demais para eles perceberem. Vários anos se passaram no mundo mundano, mas foi apenas um piscar de olhos para uma raposa que se cultivou em um demônio.
Mas para um mortal, era toda sua vida.
Fusang sempre parecia jovem e elegante da primavera ao outono, ano após ano.
SuYu, por outro lado, envelheceu lentamente com o tempo. Embora tivesse sido abençoado pelos anos e sua aparência não tivesse sofrido muito, não possuía mais talento inigualável do belo gongzi de antigamente.
Os olhos do homem escureceram por um momento quando ele viu seu cabelo ficando grisalho. A desolação em seus olhos aumentou quando notou o jovem encantador ao lado dele, que ainda era jovem e bonito.
Fusang ficou parado observando em silêncio, uma explosão de dor indescritível brotando em seu coração. Ele seria jovem para sempre e viveria no mundo para sempre, porém teria que ver a pessoa que mais amava envelhecer.
Foi uma espécie de tortura para ele e para SuYu, mas não havia nada que eles pudessem fazer.
O tempo é imparável e ninguém pode resistir a ele.
O corpo de SuYu estava envelhecendo constantemente, sua vitalidade diminuindo, sua saúde estava se deteriorando e ele começou a sofrer com doenças.
SuYu afirmou que desejava voltar a Cangshan.
Os dois finalmente voltaram para sua cidade natal depois de mais de um mês de viagem.
A cidade parecia ser a mesma de antes. Ainda era uma típica cidade pequena, retrógrada e mundana, mas cheia da calma vida cotidiana das pessoas comuns. Os vendedores ambulantes e suas barracas, onde anunciavam abertamente, eram bem conhecidos.
Fusang sentiu como se estivesse voltado ao tempo quando viu a rua familiar.
Ao andar pela rua, notou um casal de idosos caminhando com seu netinho. O pequeno garoto era fofo e esperto, segurando um espeto vermelho de doces cristalizados e comendo os restos de açúcar em suas mãos.
Os olhos de Fusang se aqueceram um pouco quando o menino olhou para ele.
Ele também tinha alguns arrependimentos sinceros.
Se SuYu não tivesse junto com ele na época, teria se casado e tido filhos há muito tempo e estaria cercado por seus descendentes. Em vez de envelhecer sozinho enquanto seu amante permanecia jovem.
Fusang fechou os olhos.
“SangSang…”, SuYu acariciou o topo de sua cabeça com sua palma grande e quente: “Vamos para casa”.
…
Apesar da passagem de várias décadas, a modesta cabana de palha permaneceu quase intacta. Os dois pessegueiros do lado de fora haviam resistido e eram tão altos quando a casa. Mas era uma pena ser final de outono. Não havia lindas flores de pêssego, apenas galhos nus.
Fusang simplesmente limpou a casa e entrou para morar ali com SuYu.
Era como voltar ao tempo anterior à partida, como se nada tivesse mudado. O jovem voltou ao topo da montanha no dia seguinte, esperando para ver o espírito do bambu.
No entanto, ninguém estava ali.
Só então lembrou-se de que o espírito do bambu havia dito que poderia se transformar em sua forma humana em algumas décadas. Ele assumiu que o amigo já havia cultivado a esse ponto e deixado Cangshan.
A saúde de SuYu continuou piorando desde que eles voltaram e, às vezes, tinha que ficar deitado na cama o dia todo.
Tornou-se mais grave quando o inverno chegou.
Fusang acendeu o fogo e sentou-se ao lado de sua cama para ler para ele. A voz de leitura clara e sonora do jovem misturava-se ocasionalmente com algumas tosses apressadas e urgentes.
O homem deitado na cama parecia abatido. Fechou os olhos com força e suportou a dor da doença. O outro ficou angustiado quando viu SuYu tossindo violentamente. Ele o ajudou a sentar e saiu do quarto para voltar com uma mistura medicinal fervida.
A espessa mistura preta era servida em uma tigela de porcelana branca e tinha um odor amargo e desagradável que deixava as pessoas doentes mais doentes.
No entanto, os dois pareciam estar acostumados com o cheiro. SuYu bebeu sem nem mesmo franzir a testa. Fusang o observou e sentiu amargura em seu coração, seus olhos ficaram úmidos.
“SangSang”, SuYu levantou a cabeça e chamou suavemente.
Fusang não aguentou mais e se jogou nos braços do homem, soluçando incontrolavelmente.
Houve apenas alguns suspiros fracos na cabana mal iluminada.
…
A condição de SuYu piorou. Ele tinha que dormir a maior parte do dia praticamente todos os dias, e suas horas de despertar estavam diminuindo.
Fusang pediu a um médico para fazer um diagnóstico. O homem suspirou profundamente e recomendou ao jovem que começasse a se preparar o mais rápido possível.
Os olhos de Fusang se arregalaram e ele perguntou perplexo: “Preparar-se?…”
O médico simplesmente balançou a cabeça, carregando a caixa de remédios nas costas e se despediu.
Era evidente o que Fusang precisava prepara na ausência de acupuntura e medicamentos. Quando ele entendeu, o médico já havia percorrido um longo caminho.
Ele caiu no chão com o rosto pálido e lágrimas incontroláveis escorriam por suas pálpebras.
Nesse exato momento, finalmente entendeu porque o espírito do bambu o desencorajou fortemente a estar com SuYu. Ele não estava nem um pouco preocupado que o mortal pudesse enganá-lo. Em vez disso temia que Fusang amasse profundamente e teria que assistir a pessoa que amava envelhecer com o tempo e morrer. Ele, por outro lado, ficaria sozinho no mundo e só conseguiria levar uma existência solitária, vivendo por centenas de milhares de anos.
Essa era, sem dúvida, uma provação torturante. Que pena que ele entendeu tarde demais.
Cangshan estava coberto de neve no dia em que SuYu partiu.
Quando Fusang abriu a janela, o vento frio entrou, trazendo neve fofa com ele, fazendo-o estremecer.
SuYu estava encostado na cama, olhando pela janela para a neve branca imaculada, e havia uma faísca de clareza em seus olhos, que estavam confusos há muito tempo.
“SangSang, venha”, ele acenou para o outro com um sorriso.
Quando Fusang notou que sua pele estava boa, uma surpresa agradável brilhou nos olhos da raposa e ele correu.
“SangSang, você se lembra, também nevou na primeira vez que nos encontramos…”
O jovem deitou ao lado dele, ouvindo contar sua história.
O coração tenso de Fusang relaxou quando viu a tez de SuYu muito melhor nesse momento, possivelmente porque ele estava se sentindo ansioso por vários dias.
Estava inclinado para frente e, sem saber, adormeceu. Meio adormecido, sentiu sua mão ser apertada com força e ouviu SuYu chamando-o com uma voz quase inaudível.
A voz soava urgente e estava cheia de relutância em se separar: “SangSang…”
Fusang acordou com um sobressalto quando outra rajada de vento soprou de fora da janela, carregando a neve fina.
Ele não sabia quando SuYu havia fechado os olhos, mas manteve sua posição anterior de se inclinar na cama e parecia tranquilo como se tivesse cochilado. Exceto por seus lábios, que estavam sem cor.
“Você está dormindo, SuYu?”
Ninguém no quarto respondeu a ele.
Ele sondou a respiração do homem com as pontas dos dedos trêmulas e se encolheu como se estivesse sido escaldado. Não conseguia mais parar de chorar e ia se afogar em lágrimas.
Seu SuYu o havia deixado sozinho.
A neve do lado de fora da janela estava ficando mais pesada, como se quisesse enterrar toda a dor ali.
…
Fusang providenciou uma tumba para SuYu ao lado dos pessegueiros que eles plantaram juntos naquela época.
O espírito do bambu, que ele não via há décadas, também havia retornado. Já havia assumido a forma humana e aparentava ser um jovem alto e lindo.
O homem não aguentou quando viu a expressão deprimida de Fusang e disse: “Se você o ama, pode esperar por sua reencarnação”.
Por um breve momento, o jovem se distraiu: “Reencarnação…”
“Sim, todo mortal reencarna. Pode rastrear sua reencarnação e, quando ele amadurecer, pode reascender seu vínculo com ele”. O espírito do bambu disse de forma elaborada.
Fusang permaneceu mudo.
“Fiz muitos amigos ao longo dos anos. Talvez eu possa ir ao submundo para ajudar a descobrir…”
“Não há necessidade…”, o jovem balançou a cabeça. Seu rosto estava pálido e ele parecia à beira de um colapso quando disse com uma voz rouca: “… deixe-o viver uma vida normal. Em primeiro lugar, eu não deveria estar na vida dele… e não será ele, mesmo que seja sua reencarnação”.
Seu SuYu havia partido e nunca mais voltaria.
“Apenas espere, vou pedir a alguém para fazer algumas perguntas e garanto que terei conhecimento da próxima reencarnação do seu gongzi”, exclamou o espírito do bambu. Não suportava ver o comportamento abatido e desanimado de Fusang.
Independentemente do outro ter respondido ou não, o homem saiu com pressa.
Fusang rejeitou as palavras que foram ditas, acariciou o pingente de jade em forma de raposa em seu peito, deitou-se ao lado da sepultura, fechou os olhos e caiu em um sono pesado.
SuYu temia ficar sozinho. Ele queria acompanhá-lo.
Tadinho do SangSang 😿