Little Fox - Capítulo 13 – Fim

Palácio Huifeng, Céu

A disposição do enorme salão era realmente simples e até parecia um pouco vazio. Queimadores de incenso vitrificados foram acesos e lentamente liberaram uma fumaça branca que evaporava no ar em um piscar de olhos.

Um homem bonito em uma túnica de brocado leve reclinou-se na cama de cristal no salão principal. Parecia ter acabado de acordar e seus olhos parcialmente abertos ainda estavam nebulosos.

“SangSang?”, o homem olhou ao redor, intrigado.

Sua raposa tola deve ter pensado que ele estava morto e estava sofrendo sozinho no reino mortal. Sua mente foi instantaneamente restaurada ao seu estado original e SuYu saltou da cama de cristal e saiu correndo pela porta.

Estava fraco desde que dormiu por vários dias e seu espírito primordial havia acabado de retornar ao seu corpo do mundo humano. Suas pernas fraquejaram quando ele saiu do palácio e ele desmaiou.

(espírito primordial: chamado de yuanshen pelo conceito taoísta, é a essência da vida)

Os atendentes imortais, que aguardavam do lado de fora do salão, ficaram surpresos e se reuniram com espanto: “Shenjun? Shenjun acordou”.

(shenjun é um título de uma divindade/ shen: divindade; jun: rei, monarca, senhor)

Um grande evento aconteceu recentemente no reino divino. Fengze Shenjun, que havia isso para o reino mortal para experimentar a calamidade, acabada de retornar depois de ficar dormindo por inúmeros dias. Em vez de esperar que seu espírito primordial se curasse, ele fez barulho para ir ao reino mortal em busca de uma raposa.

Ele alegava veementemente que aquela raposa era sua amante no reino mortal.

Os deuses abanaram suas línguas em segredo, imaginando como um belo e encantador espírito de raposa poderia realmente cativar Fengze Shenjun, que sempre foi ascético e indiferente às mulheres, a tal ponto de…

(*ascetismo: abstenção de prazeres carnais e do conforto material de quem busca alcançar a perfeição moral e material)

SuYu sentiu-se cansado quando correu para Cangshan, já que seu espírito ainda não havia se recuperado totalmente, ficando totalmente pálido quando caiu no chão. Ele vasculhou toda a montanha, mas não conseguiu encontrar sua pequena raposa.

Um dia no reino divino equivalia a um ano no mundo humano. SuYu não pode deixar de se arrepender secretamente: não deveria ter ficado tanto tempo dormindo no palácio celestial, resultando em tanto atraso.

“SangSang, onde você está?” Olhou para a casa deserta com um sorriso irônico nos lábios.

“Shenjun, ainda estamos procurando por ele?”, pergunto a pequena criança fada que vinha atrás para ajudá-lo.

“Espere um pouco mais”, o homem fechou os olhos e sussurrou suavemente: “Ele vai voltar”.

Os pessegueiros em frente à casa estavam em plena floração na primavera, com flores brotando nos galhos, carregando o aroma de pêssego com o vento.

Era uma cena extremamente intoxicante.

Quando SuYu levantou sua cabeça e observou a árvore carregada de flores de pêssego, sua expressão melancólica brilhou um pouco. Então ele ficou atordoado quando olhou para o chão. Ele não notou uma tumba nova ao lado das árvores quando chegou. Não pode deixar de seguir para lá, com olhos marejados.

Esta tumba… temia que uma raposa tola tivesse construído para si. O jovem sabia o que era uma tumba pois eles construíram uma para seu pai juntos.

Fusang deve estar inconsolável porque pensou que estava morto… o coração de SuYu doía só de pensar nisso, como uma adaga sendo torcida dentro dele. Suas emoções eram muito intensas e, quando combinadas com seu espírito primordial ainda instável, o fazia tossir sangue. Um fio vermelho brilhante escorria do canto de sua boca.

“Shenjun! Shenjun, qual o problema com você?”, quando o outro vomitou sangue abruptamente, a pequena criança fada que o seguia ficou pálida de medo.

SuYu balançou a cabeça calmamente e murmurou com a voz rouca: “Estou bem”.

O pequeno ajudante exalou um suspiro de alívio e desviou o olhar para outro lugar, vendo que sua tez permanecia serena: “Shenjun, há uma linda flauta de bambu aqui”. Comentou ele, apontando para um local da tumba.

“Flauta de bambu?”

O homem lembrou-se de Fusang dizendo que uma vez teve um amigo espírito de bambu. Finalmente o levou aos lábios depois de um tempo. O som claro da flauta soprou suavmenete no ar. A música era melancólica e adorável, parecia um choro por seu amante.

As profusas flores de pessegueiro, no topo das árvores, espalhavam suas pétalas quando a brisa soprava.

Junto com a brisa fresca veio um jovem estranho com sobrancelhas pontiagudas. Ele olhou o outro de cima abaixo e perguntou sem rodeios: “Quem é você? O que faz aqui?”

Antes que SuYu pudesse dizer qualquer coisa, a criança fada ficou furiosa: “Pequeno demônio ousado, quem te deu a coragem de ser presunçoso na frente de Fengze Shenjun?”. Ela ainda queria acrescentar algo, mas SuYu impediu.

Esse jovem pode saber o verdadeiro paradeiro da raposa. SuYu recuperou alguma esperança em seu coração, voltou seu olhar para o jovem e perguntou solenemente: “Com licença, você conhece uma raposa chamada Fusang? Estou procurando por ele”.

Finalmente, o semblante do outro suavizou: “Você é SuYu?”, perguntou erguendo as sobrancelhas.

“Sou eu”.

“Fiquei intrigado porque, depois de procurar por um tempo, não consegui encontrar sua reencarnação no submundo. Então…”, o espírito do bambu franziu a testa: “Acontece que você é um imortal que viajou para o reino humano para passar por alguma calamidade”.

Ansiedade brilhava nos olhos da pessoa à frente dele.

“Siga-me”, o jovem murmurou com uma expressão complicada.

SuYu finalmente viu Fusang em outro ponto.

Era, no entanto, o corpo original de Fusang em um estado de sono – uma raposa dormindo com os olhos fechados. Parecia estar dormindo há muito tempo. Sue magnífico pelo havia perdido o brilho original e se tornado opaco, mas ainda usava o pingente de jade que ele havia esculpido.

O pingente ainda era charmoso, mas a raposa que o usava parecia ter perdido sua vitalidade.

SuYu sentiu seus olhos arderem enquanto embalava cuidadosamente a pequena raposa adormecida em seus braços.

“Ele foi devastado pela dor desde que você morreu. Está deitado ao lado do seu túmulo o dia todo, sem comer, beber ou falar. Quando vim encontrá-lo mais tarde, descobri que havia selado seu próprio espírito, deixando apenas seu corpo original adormecido. Felizmente, encontrei-o mais cedo e comecei a cuidar dele, caso contrário… vocês estariam separados verdadeiramente para sempre”.

“Sinto muito, SangSang, estou atrasado”. O homem apertou ainda mais a bola peluda em seus braços, a temperatura fria fazendo-o tremer da cabeça aos pés. Seu coração parecia estar sendo perfurado por agulhas. Gentilmente empurrou a raposa contra seu peito, tentando aquecê-la com todo o calor de seu corpo. após um tempo, com olhos marejados, sussurrou para o jovem ao seu lado: “Obrigado”.

O jovem olhou estupefato para a figura que se afastava lentamente, seus olhos queimando e não pode deixar de gritar para ele: “Você deve cuidar bem dele. Se o fizer chorar novamente, não vou deixar escapar, mesmo que seja Shenjun!”

Os passos de SuYu vacilaram e ele disse: “Tudo bem”.

“SangSang, estamos indo para casa”. Disse com um sorriso amoroso, enquanto olhava para a raposinha adormecida.

A notícia de Fengze Shenjun voltando para o reino divino com uma pequena raposa que era simplesmente autoproclamada uma raposa demônio causou grande agitação no palácio celestial..

Fngze Shenjun pediu autorização ao Imperador Celestial para ficar junto com a pequena raposa sem nome que ainda estava em coma no Palácio Huifeng, causando ainda mais alvoroço.

SuYu usou o poder espiritual para proteger o coração de Fusang e alimentou-o com água espiritual do Lago Yaochi todos os dias. Depois de ser cuidada dessa maneira, a pelagem antes seca e opaca ficou lisa e brilhante.

Mas ele ainda não tinha acordado.

(Lago Yaochi é um lago de jade no Monte Kulun, residência da Rainha Mãe do Oeste)

“SangSang, já faz tanto tempo, porque ainda não acordou? Sei que está com raiva de mim, então porque não acorda e me bate?”

Os olhos da pequena raposa permaneceram fechados, encolhida imóvel na cama de cristal.

“Shenjun, por favor, descanse”. O médico atrás dele parecia chateado: “Seu espírito primordial ainda não se recuperou e você continua enviando poder espiritual a ele todos os dias…”

O olhar apático de SuYu o fez calar a boca, assim as palavras seguintes não foram ditas.

“Nos deixe em paz”, o homem disse suavemente.

Pegando a raposa em seus braços com olhos ansiosos ele chamou novamente: “SangSang?” A massa macia em seus braços pareceu se mover. O corpo de SuYu congelou abruptamente: “SangSang!”

Aquele corpo em seus braços lentamente se moveu e a raposa abriu os olhos sob seu olhar encantado. A raposa imediatamente se transformou naquele lindo jovem que ele conhecia há tempos.

“SuYu…?” quando Fusang percebeu que era ele, seus olhos ficaram vermelhos e mergulhou em seus braços. Seus olhos estavam cheios de lágrimas e ele sentia-se injustiçado.

SuYu nunca suportaria deixar ir seu amante, sentindo a suavidade e beleza há muito perdidas em seus braços.

Ele abraçou Fusang com força, seu tom gentil como sempre: “SangSang, estou de volta”.

-FIM-