Little Fox - Capítulo 8 – Ter um filho
SuYu persuadiu Fusang por três dias antes que ele cedesse e parasse de se preocupar em retornar à caverna de raposa com seu pequeno pacote de pano. A técnica de persuasão era particularmente incomum: em última análise, os espetinhos de doces e frutas cristalizadas funcionaram e o SuYu gongzi não precisou mais dormir miseravelmente no depósito de lenha sozinho. Ele se decidiu pelos doces cristalizados depois de perceber o quanto o jovem gostava disso.
(gongzi é um pronome de tratamento, como senhor)
SuYu entregou ao outro uma pequena cesta de bambu cheia de frutas e disse para lavá-las enquanto preparava a calda de açúcar em uma panela. Fusang ficou muito feliz quando ouviu isso e prontamente beijava SuYu na bochecha. Cada espetinho que ficou pronto, fosse com fruta ou fosse com um doce, era brilhante e suculento, muito atraente.
Quando Fusang os viu, engoliu sua saliva e secretamente pegou um e jogou na boca, mordendo com impaciência.
Sssss. Tão azedo!
O rosto da raposinha se enrugou por causa do azedume e ele cuspiu apressadamente o que acabara de comer às escondidas.
O homem, que ouviu o movimento e olhou para cima, encontrou o rosto suspeito do outro e não pode deixar de rir: “Coisinha gulosa…”
Fusang ficou extremamente ofendido e acenou a mão com raiva: “Isso não está gostoso! Não é como aqueles que comi antes! Não quero mais!”
SuYu pacientemente o persuadiu: “Vai ficar delicioso quando eu fizer a calda e colocar a cobertura de açúcar”.
“De verdade?”
“Sim”.
Ele continuou mexendo a água com açúcar até que começou a borbulhar e, quando a calda engrossou, girou um espeto de frutas lavadas dentro dela, o açúcar cobrindo como uma camada de vidro brilhante.
Os olhos do jovem brilharam quando viu aquilo. Mesmo estendendo sua mão com agilidade, ela voltou vazia.
“Quero comer!”, disse a raposinha gulosa enquanto fazia beicinho e olhava para o espeto de frutas cristalizadas colocado em uma tábua ao lado.
SuYu o confortou um pouco enquanto balançava a cabeça impotente: “Não pode comer ainda, SangSang. Espere um pouco; o doce ficará delicioso depois de seco”.
Fusang relutantemente se comprometeu. Depois de um dia agitado, os espetinhos estavam prontos.
O homem os colocou ordenadamente na tábua, que estava muito atraente à vista. Uma certa raposinha estava sentada ao lado da tábua, com mais de cinco espetinhos em cada mão, mastigando alegremente.
Fusang comeu com alegria e satisfação, convencido de que SuYu não havia mentido para ele. Ao seu gosto, esses doces cristalizados eram ainda melhores do que havia comido da outra vez.
Diligentemente, o jovem pegou dois espetinhos para mostrar ao espírito do bambu, fazendo-o sentir-se castigado.
“Você está me importunando porque eu ainda não me tornei um humano, sua raposa malvada!”, bufou friamente o espírito do bambu.
“Sim, estou importunando você e você não pode me bater”. Fusang rodeou o bambu por duas vezes, mostrando a língua para ele.
O espírito do bambu riu e o amaldiçoou outra vez. Ele suspirou enquanto Fusang se afastava.
O inverno chegou mais cedo este ano e nevou quase imediatamente.
A queda de neve transformou as montanhas verde-escuras em uma enorme extensão de branco puro, lembrnado um país das fadas terrestres.
A casa tinha um fogão de carvão aceso e todo o lugar estava aquecido. Fusang estava nos braços de SuYu, ouvindo-o ler.
O homem estava sentado com os cabelos soltos, sua postura mais relaxada que o normal, mas seus olhos ainda estavam cheios de carinho. Seus dedos finos acariciavam, de vez em quando, o rosto da pessoa em seus braços, e as palavras que saíam de seus lábios finos eram suaves e claras: “Você é uma pedra, eu sou o capim dos pampas; a grama dos pampas é suave como seda e a pedra não se mexe. Esse é um poema de amor. É sobre a promessa de um par de amantes”. SuYu contou a Fusang a história do poema com sua voz calorosa.
(passagem de um trágico poema sobre dois amantes que são separados por suas famílias; eles acabam com as próprias vidas para manter a promessa de amor entre eles)
Fusang, encolhido em seus braços, olhos semicerrados, bochechas coradas pelo calor da sala, como um grande gato preguiçoso.
“Você é uma pedra…”, aprendeu a ler palavra por palavra.
SuYu coçou a ponta do nariz com satisfação e exclamou: “Aprendeu rápido hoje”.
“Quero dormir depois de aprender”. O jovem bocejou e se esfregou no peito, procurando um lugar confortável para dormir.
“SangSang, feche os olhos primeiro”, o homem colocou o pergaminho ao lado e riu misteriosamente.
Fusang não sabia o que pretendia, mas ainda fechou os olhos obedientemente.
Sentiu um toque quente em seu pescoço e abriu os olhos para ver um pequeno pedaço vermelho pendurado na frente dele. Era um pingente de jade de sangue, finamente esculpido como uma raposinha brincalhona, atraente e charmosa, como se fosse sua imagem.
Olhando fixamente, Fusang percebeu que SuYu estava escondendo algo dele por algum tempo.
“Como é? Não gostou?” SuYu perguntou calorosamente, vendo-o segurando o pingente de jade em um estupor.
“Gosto muito”, disse Fusang com um aceno de cabeça e os olhos um pouco marejados.
SuYu envolveu amorosamente o indivíduo em seus braços e sussurrou baixinho: “Estou satisfeito por você ter gostado”.
O inverno veio e passou rapidamente e, quando a brisa da primavera soprou, os galhos nus por toda a montanha produziram novos brotos verdes de uma vez. Era uma cena vibrante.
As duas mudas de flor de pessegueiro na entrada também ficaram significativamente mais altas e vários botões se desenvolveram.
Fusang ficou emocionado e guardou cuidadosamente os botões de flores, temendo que o vento forte os levassem embora.
Vendo que o jovem gostava tanto de flores, SuYu o levou até a cidade, afirmando que compraria algumas mudas de ormanthus para plantar. Eles vagaram pelo mercado por um longo tempo sem encontrar nenhuma muda de osmanthus. No entanto, encontraram um velho amigo.
Quando Fusang o viu pela primeira vez, apenas sentiu uma vaga familiaridade com ele. De repente se lembrou, depois um longo tempo de reflexão, que este cavalheiro era Wang gongzi, o noivo cujo banquete de casamento ele compareceu com SuYu no ano passado.
Vendo que ele estava conversando atentamente com SuYu, o olhar de Fusang mudou ligeiramente para a pessoa ao lado dele. Uma jovem séria estava ao lado do homem. A mulher parecia doce, com olhos amendoados e bochechas cor de pêssego, ela era muito bonita.
Só que sob seu vestido simples, mas elegante, o abdômen estava saliente. Os olhos do jovem se arregalaram e não conseguia parar de encará-la. Seus olhos interessados pareciam excessivamente fervorosos, até mesmo Wang gongzi próximo a ela notou isso.
“O que este pequeno gongzi está olhando?”, ele riu.
SuYu ouviu as palavras e olhou em volta.
Fusang perguntou curiosamente, apontando para a barriga da mulher: “Porque o estômago dela está inchado? Ela come muito?”
Seus olhos de raposa voltados para cima e a cabeça inclinada o faziam parecer um bebê curioso. As três pessoas ao seu redor riram.
“Não é por comer demais, pequeno gongzi. É que estou grávida, tenho um bebê na minha barriga. Assim minha barriga vai ficar grande naturalmente”. A jovem cobriu a boca, divertida.
Fusang era jovem e raramente descia a montanha. Ele sabia muito pouco sobre essas coisas, sobre como os humanos davam à luz crianças, por exemplo: “Como se faz um bebê?”, ele perguntou.
Essa pergunta fez com que a jovem senhora enrubescesse, ela agarrou a manga do marido, que estava ao lado dela, envergonhada e com raiva.
SuYu riu impotente estava pronto para dar um passo para levá-lo embora quando Wang gongzi falou ao lado: “É simples depois do casamento. Depois que se casar, naturalmente o casal será capaz de conceber”. O homem abraçou sua linda esposa, com um sorriso radiante de felicidade: “Minha esposa e eu nos casamos no ano passado, mas não tivemos boas notícias até janeiro. Irmão Su, você tem mais ou menos a minha idade, deve se casar logo também. Seu irmão mais novo está sugerindo que você dê a ele um sobrinho o mais rápido possível”.
A pequena sobrancelha de Fusang franziu, ele inconscientemente iria retrucar algo. SuYu o arrastou apressadamente antes que pudesse expressar mais dúvidas.
Fusang ainda estava pesando muito depois de voltar para casa. SuYu ficou surpreso quando viu um certo alguém que nunca foi capaz de ficar parado ficar estranhamente sentado em frente à janela, com a mão na bochecha e a expressão pensativa.
“O que há de errado?”
“Como Wang gongzi e sua esposa podem ter um filho logo depois de se casarem? Também estamos casados há muito tempo, então porque não temos um bebê?”. Dito isso, ele baixou a cabeça e suspirou para si mesmo: “Como conceber um filho?”
SuYu ficou atordoado por um segundo quando viu sua aparência, então um brilho peculiar apareceu em seus olhos escuros: “SangSang deseja dar à luz meu filho?”, perguntou com os lábios levemente curvados.
“Eu posso ter um bebê?”, Fusang murmurou enquanto lambia os lábios: “Sou apenas uma raposa. Parece que só posso ter filhotes de raposa, certo? É possível ter um filho humano?”. Quanto mais Fusang considerava isso, menos plausível parecia. Não é surpresa que não pudessem ter um filho; era devido ao fato de que ele era uma raposa. Mesmo que desse à luz, seria a um filhote de raposa.
SuYu apenas olhou para ele com ternura, um sorriso suave nos lábios. Considerou persuadi-lo, mas não pode deixar de querer provoca-lo: “Não importa o que SangSang dê à luz para mim, estou muito feliz”. Carregando a raposinha em estilo princesa, foi caminhando até a cama deles: “No entanto, será difícil ter um filho”.
Quando Fusang viu que as cortinas da cama haviam sido fechadas, sabia o que iria acontecer a seguir e um brilho corado se espalhou por seu rosto. A raposinha deitou-se com um olhar resignado e habilmente pegou o travesseiro ao seu lado e enfiou sob a cintura, pronto para ‘trabalhar muito’.
O peso, que foi abruptamente pressionado sobre ele, obstruiu seus movimentos assim que se deitou. A respiração quente arranhava suas orelhas e deixava seu coração dormente. Fusang apertou ainda mais a pequena almofada, saboreando o beijo longo e ardente.
Os olhos gentis de SuYu só perdiam clareza neste momento, como se estivessem cobertos de névoa. Seu corpo se moveu violentamente, sua respiração tornou-se áspera e pesada, seus lábios e dentes morderam o lóbulo da orelha de Fusang.
“SangSang… me peça mais”, sua voz rouca pediu sedutoramente.
Fusang, que havia sido atormentado por ele por tanto tempo, tanto que seus olhos estavam nublados, mordeu o lábio e recusou-se a cooperar. Ele não tinha ideia de que SuYu o agarraria pela cintura e empurraria com mais força.
Ele gritou, excitado, e lágrimas de cristal escorreram de seus olhos em um instante.
Sentindo-se injustiçado, a raposinha finalmente abriu a boca para pedir perdão: “…marido…”